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Entre o amor e as grades Amor Condenado

Parece estranho, mas é real. É grande a quantidade de mulheres que se envolvem com detentos ou que visitam penitenciárias com o objetivo de encontrar um novo amor.

Quarta 22/03/2017 - Aislan Henrique
Entre o amor e as grades  Amor Condenado
Camila coleciona cartas apaixonadas e presentinhos que o seu amado Paulo confecciona na prisão. O cenário perfeito para uma história de amor poderia passar por Paris na primavera. Ou pelo escurinho cantado por Rita Lee.

Um pequeno cômodo escuro, com cama de cimento e compartimento com torneira chamado de banheiro, não parece uma opção provável. O príncipe encantado também pode não parecer com aquele que dita o inconsciente coletivo. Ao contrário. Cumpre pena por assalto, sequestro, estupro, tráfico.

O detalhe inusitado é que algumas mulheres optam pela difícil condição de amar um presidiário.
Elas conheceram o amado na prisão. Jamais o viram em liberdade e, mesmo assim, juram amor eterno e incondicional. ‘‘Quem disse que eu o amaria se o tivesse conhecido lá fora?’’, desafia Claudia, 30 anos, há dois namorada de Henrique, condenado por latrocínio, de 28 anos.

É grande o número de detentos que começaram um relacionamento na cadeia. Enquanto muitas mulheres não aguentam as privações que a condenação do marido impõe, outras parecem gostar da rotina incomum de namorar um presidiário. ‘‘São muitas as mulheres que vêm à penitenciária para conhecer os detentos. Eles parecem despertar certo fascínio em algumas delas’’, diz uma Agente Penitenciaria do Presidio Sebastião Sátiro da cidade de Patos de Minas_MG.

O COMEÇO

É preciso autorização para entrar na Sátiro nome dado ao presidio de Patos de Minas. Os presos têm permissão para receber até duas pessoas no dia de visitas. Então, como tantas mulheres fazem para procurar seu príncipe encantado dentro dos limites da penitenciária? ‘‘Geralmente, a irmã, esposa ou mãe de um detento leva uma amiga no dia de visitas. Dessa forma, depois de conhecer um preso, este coloca o nome da nova ‘amiga’ na sua lista de visitantes’’, diz a Funcionária.

Foi o que aconteceu com Raquel, 24 anos. ‘‘Eu andava me sentindo muito sozinha e triste por causa do rompimento de um relacionamento de quatro anos’’, explica. Foi quando uma amiga a convidou para visitar o irmão no presidio. Argumentou que havia muitos ‘‘rapazes bonitos’’, que ela poderia conhecer alguém interessante. ‘‘Quando vi o Júlio sabia que ele estava esperando por mim’’, sonha.

A partir daí a rotina é sacrificada. Os presos só podem ser visitados nos finais de semanas, e a entrada é liberada por ordem de chegada. Muitas mulheres chegam de madrugada na porta do presídio, outras passam a noite no portão apenas para ficar mais tempo com seus amados.

Uma revista rigorosa é imposta na entrada. ‘‘Precisamos tirar toda a roupa e aguentar um detector de metais entre as nossas pernas. Mesmo os sistemas prisionais nos tratam com desprezo. É como se fôssemos culpadas pelos crimes de nossos homens’’, desabafa Raquel. Qualquer bolsa ou presente é revistado com o mesmo cuidado. Uma inocente maçã pode ser fatiada para evitar que drogas entrem no presídio.

Mesmo durante a semana que antecede a visita, essas mulheres convivem com o medo de que algum ato de indisciplina resulte em ‘‘castigo’’ para o preso.

Mas nada desanima essas mulheres, que passam dias ansiosos aguardando à hora de entrar na penitenciária. ‘‘É horrível todo o ritual de chegada.

Mas esqueço de tudo quando encontro o Júlio. Posso até entrar chateada, mas quando chego perto dele é só amor’’, entrega Raquel.

INTIMIDADE

O amor a que Raquel se refere é conseguido não sem uma dose de resignação. Tem hora e tempo marcados para acontecer. O local dos encontros sexuais é chamado de visita íntima pelos detentos. Nada mais impessoal. A salinha de medidas insignificantes é provida de uma cama de cimento, colchão e uma torneira com ares de chuveiro. Cada detento espera sua vez e recebe algumas camisinhas. O lençol que forra a cama improvisada é levado pelas mulheres. Passam rápidos os minutos de intimidade com a parceira.

“O problema é que não sei se aproveito os minutos que tenho com ele ou se me preocupo com o tempo, com a entrada de alguém”. É difícil ficar à vontade na visita. Se você ultrapassa os minutos permitidos tem alguém batendo na porta’’, explica Raquel. Mesmo assim, todas elas concordam que o esforço vale a pena. ‘‘Às vezes tenho algum compromisso que me impediria de ir à penitenciária; mas vai chegando segunda-feira. Eu não aguento! Acabo desmarcando o compromisso’’, diverte-se Raquel.


JURAS DE AMOR

Uma característica comum à maioria das mulheres que buscam um novo amor atrás das grades de um presídio é alguma desilusão romântica. Aparentemente por esse motivo, elas respondem em coro quando perguntadas sobre o lado bom de namorar um preso: ‘‘Ao menos temos a certeza de que ele é só nosso não vai sair atrás do primeiro rabo-de-saia’’, diz a jovem.

O caso da advogada Carla, 31 anos, é exemplar. Ela namorou por quase dois anos o detento Gilmar, que conheceu por meio de uma amiga. Fizeram juras de amor eterno e planos de casamento e filhos. ‘‘Foram dois anos sem aproveitar um domingo de sol por causa daquele desgraçado. Não deixei de vir à penitenciária um fim de semana sequer.

Trazia presentinhos, comida, docinhos que eu mesma fazia’’, lembra.
Gilmar cumpriu metade da pena e teve direito ao benefício de passar o dia trabalhando, longe da cadeia. ‘‘Foi o suficiente para arrumar outra’’, alfineta a advogada. O tempo que ‘‘frequentou’’ o presídio lhe rendeu vários amigos, entre detentos e parentes, o que possibilitou a advogada Carla a continuar indo ao Presídio.

Começou a namorar outro preso e já conta sete meses de relacionamento. E o medo da novela do abandono voltar a se repetir? “É o risco de se relacionar com uma pessoa que nunca vi em liberdade”. Na cadeia, eles se mostram frágeis, carentes, dependentes da gente. Não sabemos como vão se comportar fora daqui. Por mim, meu atual namorado ficaria preso para sempre’’, confidencia.

Mas ao que parecem mesmo encarcerados, os detentos não estão livres do assédio feminino. Eles recebem cartas, propostas de casamento, fotos. Parecem mesmo exercer certo fascínio em algumas delas.

Nem mesmo o fato de estar do lado de uma pessoa que cometeu um crime horrível parece assustar essas mulheres. ‘‘Sei que é perigoso, mas corro o mesmo risco do lado de fora. Entre estar com um bandido aqui dentro, sob custódia, e um lá fora, solto, fico com a primeira opção’’, rebate Carla. Em tempo: o namorado de Carla foi condenado por tráfico de drogas e duplo homicídio.

Obs. Os nomes das entrevistadas foram trocados a pedido das mesmas.

DEPOIMENTO

“Queria ter um amor aqui fora como tenho lá dentro”
Fui casada com dois policiais antes de conhecer o Ricardo e, acho que por isso, tinha curiosidade em saber como era um presídio. Fui ao Presidio Sebastião Sátiro, em maio do ano passado, com a minha vizinha que ia visitar o marido. Quando cheguei, gostei do Ricardo logo de cara. Ele tem o nome do meu finado marido e também gostou de mim.
Conversamos um pouco esse dia e eu nunca mais fui lá. Mas sempre perguntava por ele, mandava lembranças pela minha vizinha. Ele sempre retribuía. Até que em junho, durante uma visita, ela contou para ele que era o dia do meu aniversário. Nesse dia, a vizinha trouxe a carta de amor mais linda que já vi na vida. Toda decorada e romântica, me pedindo para ir vê-lo. Fui visitá-lo no fim de semana seguinte. Quando cheguei à penitenciária fui recebida com um beijo, um abraço e um início de romance.

Ele dizia que não tinha parado de pensar em mim desde o dia em que me viu pela primeira vez e, a verdade, é que eu também não tinha parado de pensar nele. Eu tenho 36 anos, ele tem 23 e está preso há quatro anos, condenado por assalto e atentado violento ao pudor. Falta pouco para que ele comece a ter direito a alguns benefícios como trabalhar e passar o dia longe da cadeia. Isso é tudo o que eu espero: poder viver uma tranqüilamente com o homem que eu amo. Ele é um pouco nervoso, se mete em brigas lá dentro, o que me deixa muito apreensiva. Mas comigo é uma pessoa maravilhosa. Queria ter aqui fora um amor como tenho lá dentro. Ele é tão amoroso que minhas filhas o chamam de pai. É claro que não é fácil namorar uma pessoa que está presa. Ele tem muito ciúme da minha vida aqui fora, tem medo que eu arrume outra pessoa, que o traia. Eu também sofro com o preconceito.

Minhas amigas dizem que isto não é certo e que se decidir viver com ele, não poderei mais freqüentar suas casas. O mais engraçado é que sempre estive do outro lado. Achava que bandido tinha que morrer que ficava comendo e dormindo às custas do governo. Depois que conheci o Ricardo percebi que o detento já está pagando pelos erros que cometeu, não precisa ser desprezado. Precisa, sim, ser amado para aprender a amar também. O mais importante é saber que vai ter uma mão para segurar quando sair dali.

Mostro nesta matéria que Amor não tem limites quando se ama de verdade. Muitos criticam ao fato de um ser humano está preso pagando pelo um ato que foi cometido, porem julgado e condenado a morte sem se quer expressar e sentir um sentimento que abala qualquer homem.

Para o amor não existi barreiras e limites, até um condenado tem o direto de amar e ser amado…


Autor: Fábio Júnio de Oliveira Paes


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